Tu Não Tens Nome
Acode-me a trepidação da imaginação para me equilibrar. É através da imaginação que eu salvo o mundo. Todo o mal da vida contrai-se de susto pelo músculo do sonho.
A sensualidade de vaguear no impossível. Cada sonho deixa uma espuma na alma. Tornar real o sonho da noite passada é a contínua sina da minha vida.
Mas amo mais o cheiro da tinta da caneta que as letras que desenho. Amo mais o brilho da folha que as palavras que a preenchem. A minha escrita é nada. O estrondo da caneta a pousar no papel. Uma prosa de ruínas.
No limiar da cadência da manhã, sinto que foi uma pena não me ter esquecido dos sentimentos em casa. Mas é esta suprema maldição de se nascer com um peito onde se planta um coração para se sentir o desabrochar de todas as primaveras. Retiro o sorriso do bolso e recoloco-o na minha boca.
Já não passeio com a tua saudade pela rua. Ela soltou-se da trela da minha mente e fugiu-me, sem deixar vestígio. O meu coração fatigou-se, consciencializou-se e deixou de bater. Por ti. Tu não tens nome. Porque eu não sei mais o que ele significa para mim.
Tu não tens nome. Porque não reconheço a pessoa em que te tornaste. Tu não tens nome. Porque a minha boca desiludida desaprendeu a dizê-lo. Tu não tens nome. Porque ele tem veneno e eu não vou morrer pelo absurdo de soletrá-lo.